TERRA YANOMAMI - Relatório vê fragilidade do governo federal em seis meses de ações e cita 'falta de coordenação'

Yanomami reivindicam melhorias durante IV fórum de lideranças — Foto: Fred Rahal/ISA


Um relatório que avalia os seis meses de ações do governo federal no atendimento a indígenas e retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami indica que o trabalho do governo federal tem avançado, mas ainda não é suficiente para garantir a segurança - inclusive de saúde, aos indígenas. O material foi divulgado nesta quarta-feira (2).

Intitulado "Yamakɨ nɨ ohotaɨ xoa! - Nós estamos sofrendo ainda: um balanço dos primeiros meses da emergência", o relatório de 43 páginas destaca que a "ausência de uma coordenação das ações do governo no território Yanomami" é um dos principais fatores que explicam muitos dos problemas, como o de comunidades ainda desassistidas de saúde e núcleos de garimpeiros que insistem em não deixar o território.

Desde que declarou situação de emergência para combater desassistência de indígenas Yanomami, em janeiro deste, o governo federal tem atuado em três frentes: a oferta de atendimento de saúde às comunidades no território, envio de alimentos às regiões impactadas pelo avanço do garimpo ilegal, e retirada dos invasores.

Mas, na avaliação das lideranças que integram as associações responsáveis pelo relatório - Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye'kwana (SEDUUME) e Urihi Associação Yanomami - seria necessário unir todos os problemas em um único cronograma que pudesse ter execução de maneira centralizada.

"Preciso que o nosso presidente do Brasil continue trabalhando, continue reforçando. Mas tem que acelerar mais para nós Yanomami. A maioria não quer que garimpeiro continue trabalhando. Não pode demorar muito, sair é urgente. Eu não quero mais deixar meus parentes doentes, nossos filhos morrendo e a água suja. Tem que acelerar para retirar os garimpeiros esse ano", afirmou ao g1 o xamã e principal líder Yanomami, Davi Kopenawa.

Como melhorias, o documento sugere, por exemplo, que as missões de saúde nas comunidades deixem de ser esporádicas e passem a ser regulares, como era o caso do polo base Hakoma, que desde 2021 dependia de visitas pontuais de servidores da saúde que atuam no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek'uana (Dsei-YY), ligado ao Ministério da Saúde. A unidade foi reaberta este ano, segundo o Ministério da Saúde.

Hakoma é uma região com presença de garimpeiros, fica entre as regiões de Homoxi - que já teve a segurança retomada pela Polícia Federal e o posto de saúde foi reestruturado, e Surucucu, considerada região de referência e onde o governo federal montou o Centro de Referência em Saúde para atender indígenas removidos das comunidades.

"É uma região com muitos garimpeiros em volta das cerca de 12 comunidades. Tem também muitos casos de malária", afirma o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari, responsável por várias denúncias de violações no território Yanomami e que acompanha de perto trabalho do governo federal.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou ter investido "mais de R$ 19 milhões no socorro aos povos indígenas da região. Entre as ações emergenciais adotadas estão a ampliação do atendimento, com reforço de profissionais de saúde de diferentes áreas; recomposição do abastecimento de insumos e medicamentos de saúde; recuperação e construção de novas estruturas de saúde; monitoramento constante da situação de saúde na região e realização de diagnóstico."

Ainda segundo a nota, foram foram reabertos sete pólos-base: Hakoma, Homoxi, Haxiú, Kataroa, Lahaka, Ajarani e Parafuri.

“A partir de agora, após a operação emergencial realizada para salvar vidas, podemos trabalhar na questão estrutural, para reconstruir a assistência de qualidade aos indígenas da região após o desmonte dos últimos anos. O atual cenário definitivamente é melhor que o encontrado, mas é algo gradual que levará mais tempo para se recompor. Trabalhamos agora para implantar um plano de combate à malária, um programa de estruturação das unidades de saúde e alocar investimento para saneamento”, afirma o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba.

Fonte: G1

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